II capitulo

07/03/2011 13:07

II- Sem pra onde ir;

 

   Com certeza esse era o pior dia de todos, de uma lista enorme. O que ia fazer?Pra onde eu ia?Como ia me sustentar?Surgiram novas perguntas em uma mente perturbada de uma adolescente de apenas 16 anos, isso não era justo, o que eu tinha feito pra merecer uma vida dessas? Eu estava mais desamparada do que nunca, comecei a vagar pelas ruas de minha cidade. Decidi me sentar em uma panificadora ao lado da minha lan hause favorita, então pensei em entrar pra ver se Catarina estava online, inutilmente, pois estava fechada para manutenção. Então a pareceu uma garçonete:

--Gostaria de comer algo?—Sim gostaria estava morrendo de fome, mas não podia me dar ao luxo de gastar dinheiro, nem sabia o quanto tinha!

--Só um copo de água!Da torneira, por favor! _Ela saiu foi ate a cozinha.      

Decidi ver quanto tinha, Para minha surpresa tinha $233.30. Sou muito econômica! Ri imaginando minha sorte, por ter economizado as migalhas que Vick conseguia me dar por anos sem nem mesmo contar pra saber quanto tinha. Idiota do que você ta rindo? Você ta totalmente sozinha no mundo... Repreendi-me e antes de terminar meus pensamentos, a garçonete apareceu com o meu copo de água me olhando como se eu fosse louca, percebi que eu estava falando sozinha.

--Obrigada_ eu disse enquanto ela saia—ECA, cloro_ me lembrei que odeio o gosto de água da torneira, mas a sede era tanta que bebi assim mesmo. Senti-me a pessoa mais pão duro do mundo. Mas não sabia o dia de amanha...

Ao sair daquela panificadora, não soube pra onde ir ou o que fazer! Onde eu passaria a noite? O que eu faria amanha? O que eu faria agora?

Com uma mochila quase vazia nas costas, com o dinheiro que obviamente não daria pra me sustentar pro resto da vida, com o coração nas mãos e chorando sem que pudesse fazer nada pra controlar, eu estava sozinha como jamais havia estado antes, não era a primeira vez que eu brigava com meu pai, nem a primeira que fugia de casa mais essa era a primeira vez que saia nessas condições.

Caminhei sozinha sem destino pelas ruas por muito tempo, andando cada vez mais pra longe de casa _Casa, Minha casa_ repetia toda hora pra mim, e me perguntava se ainda tinha ou teria uma, talvez aquela fosse uma boa hora pra morrer, talvez a morte fosse mais fácil do que a minha vida _Qualquer coisa era melhor que minha vida naquela hora e sempre_ Sentei na calçada em uma ruazinha deserta pedindo a Deus pra que eu morresse sem que tivesse que atentar contra a minha própria vida, assalto, bala perdida, um assassino de garotas sem vida, qualquer coisa serviria, qualquer coisa que pudesse acabar com essa dor insuportável e com esse buraco que se formava em meu peito. Coloquei a mochila em meu colo, dobrei os joelhos os abraçando, apertando a mochila em meu peito, as lagrimas estavam seca em meu rosto, minha cabeça estava zonza, meu peito doía, as imagens do meu dia e vida vinha em minha mente piorando o buraco em meu peito.

Não podia esquecer os olhos vermelhos de Vick esta manha, os olhos perfeitos de Lucas na escola, aquele sorriso incrível que não saia dos meus sonhos e que me fazia esquecer a vida miserável que eu tinha e aquela boca que me fazia ir a delírio,

_Boca que estava na daquela garota esta manha_ e uma lagrima voltou aos meus olhos, não saia da minha cabeça o rosto e meu pai nem o desespero de minha madrasta, meu pai era o culpado eu o odiava com toda minha alma, se ele não fosse um monstro talvez minha mãe não tivesse nos abandonado, ou minha madrasta fosse feliz e eu pudesse ter uma vida.

Mas mesmo assim ainda me perguntava se queria ver meu pai morto, se eu o amava, me lembrando das palavras de Vick quando perguntei porque ela ainda o amava depois dele destruir a vida dela _ Você deixou de amá-lo por isso?_ Deixei? Essa pergunta continuava sem resposta pra mim.

_Vocês sabem que eu sou da paz ne?_ pude ouvir alguns garotos falando no fim da rua me trazendo pra realidade essa que não era muito melhor do que meus delírios.

Eles vinham em uma turma grande, pude ver que eram mais de cinco garotos se aproximavam rápido me olhando, e estavam bebendo, uma pontada de medo veio em mim e o impulso de sair dali durou segundos, ate me lembrar que não havia motivos pra eu preservar minha vida, porque certamente esta duraria muito pouco,

_E ai gatinha?_disse um deles, não os olhei pra saber qual deles era.

Permaneci em silêncio.

_Eliza?_reconheci a voz de James.

O olhei rápido sem acreditar, era uma luz no fim do túnel pra mim? Sufoquei minha esperança, que luz James _logo James_ podia representar pra mim?

_O que você ta fazendo aqui a essa hora sua louca? _ele sorria me olhando.

_Nada _parei de encara lo, me perguntando o que eu devia falar pra ele? o que eu devia pedir a ele?, Como James poderia me ajudar?

Cheguei a conclusão de que qualquer um podia me ajudar menos James.

Abaixei a cabeça em meus joelhos, fechando meus olhos, tentando parar de respirar.

_Vão indo _ pude ouvi lo falar com os amigos_ depois eu os alcanço de carro.

_Namoradinha louca é? _disse outra voz desconhecida pra mim.

_Acho que ela exagerou na noitada!_disse a primeira voz que antes me chamou de gatinha.

Ambos caíram na risada, inclusive James.

_Não, ela não é minha namorada..._parou de repente_ Por enquanto_ disse com a voz irônica rindo de novo.

Meu coração doía desesperando no meu peito, enquanto eu ouvia na esperança de que tudo aquilo não passasse de um pesadelo.

_Ela ta com problemas... Eu acho... Depois eu alcanço vocês, ta bom? _disse James ainda rindo.

Pude ouvir a turma saindo conversando coisas que não consegui entender nem tentei, o silencio voltou e por um momento pensei estar sozinha de novo, ate que percebi James se sentando ao meu lado.

_Ei! Tem alguém ai?_ me perguntou tirando uma mecha de cabelo que cobria meus olhos fechados.

Abri meus olhos, me perguntando se ele realmente se preocupava comigo ou se tinha segundas intenções por traz dessa atitude.

_Não vai falar comigo?_ falava me olhando com aqueles lindos olhos verdes.

_Você não pode me ajudar James _ninguém podia, a não ser se tivesse coragem o suficiente pra me matar.

_Só me conta, o que você ta fazendo aqui sozinha?_parou esperando uma resposta e o cheiro horrível de bebida em seu hálito me lembrou meu pai_ Você esta meio longe de casa né?_ele sabia onde era minha ex casa por acaso?

_Eu não tenho casa_ disse quase chorando de novo_ Não tenho nada, nada com que contar nada.

_Opa! O que aconteceu com aquela Eliza animada e feliz que vi esta manha?_ agora ele parecia realmente preocupado.

_Esta morta_ Fechei os olhos sufocando as lagrimas que voltavam a querer sair_ do mesmo jeito que esta aqui deveria estar.

_Ei _disse passando sua mão pelo meu rosto secando uma lagrima teimosa que conseguia escapar, e se aproximando de mim_ e como eu ficaria sem você?

_Você encontraria outra pessoa pra fazer seu dever_ disse me levantando ainda abraçada com minha mochila.

_Eliza_ disse ainda sentado.

_Aquela Eliza que você explorava morreu, me esquece porque logo esta aqui também vai estar morta_ disse fechando novamente meus olhos.

_Eliza você esta aqui, so não entendo porque esta assim! _se levantou, ficando de frente pra mim e me segurando pelo ombros_ Porque não tenta me contar o que aconteceu? Tem alguma coisa que eu possa fazer por você?

Me soltei de suas, mãos colocando minha mochila em minhas costas de novo.

_Tem sim!_ o encarei esperando por sua reação _Me mata!

_Como é?_ me respondeu assustado.

_É isso mesmo que você escutou_ agora eu falava quase gritando, aproveitando pra desabafar_ eu não consigo mais viver assim, eu quero...

_Ei para ai_ agora ele quem gritou_ que paranóia e essa Eliza?O que ta acontecendo?

Eu me lembrei que James não era meu amigo, tampouco conselheiro ou psiquiatra.

_Desculpa_ baixei a voz_ É coisa minha_ me virei e sai perambulando pela rua.

Ele não me acompanhou.

Naquele momento eu tinha certeza que me jogaria na frente do primeiro carro que eu encontrasse.

Ouvi alguém correndo atrás de mim, um arrepio correu por minha espinha, e novamente me lembrei que minha vida não tinha sentido, e ainda caminhando esperei ansiosa por ser esfaqueada pelas costas, mas pra minha decepção so consegui ouvir a voz de James.

_Desculpa Eliza_ ele me alcançava _ mais me fala o que ta acontecendo com você?

Você esta drogada?

Parei na hora incrédula, drogada?

_Drogada? não _ cai no choro sem que pudesse fazer nada pra impedir.

James me abraçou.

_Eu não posso te entender mais...

O celular tocou uma musica eletrônica  e James me soltou.

Continuei de cabeça baixa e olhos fechados.    

_Fala Vini..._disse ele ao atender o celular.

Vini? Vinicius? Novamente me perguntei se seria uma luz no fim do túnel, dessa vez me agarrei na chance de ser.

Abri os olhos me agarrando na minha ultima esperança e consegui pensar um pouco.

Vinicius sabia de Lucas, e sabia me ouvir, ele podia me ajudar, mas como?

_Deixa eu falar com ele James_ pedi estendendo a mão_ Por favor_ implorei ao ver seus olhos arregalados sem entender nada.

_Vinicius, é sim você tem razão... _parou em silencio ouvindo me olhando assustado _Vinicius, espera ai... é que a Eliza, sabe  Eliza ne? Pois é ela ta aqui comigo... Não é nada disso não ou... _olhou pra rua deserta rindo, do que havia ouvido, e eu me perguntei se estava mesmo perdida.

_É que ela quer falar com você, ela esta muito estranha _ falava como se eu não estivesse ao seu lado, e eu o ignorava ainda com a mão estendida esperando pelo celular_ acho que ela esta drogada... Há sei não... vai saber ne?pois é...

Eu me perguntava o que tanto eles falavam sobre mim, e minha paciência chegou ao fim.

_Me da logo esse celular!_não pedi, mandei_ agora_ James não disse nada, so ficou me olhando assustado e me entregou o celular em silencio.

Peguei o celular, me virei e dei quatro passos me distanciando um pouco de James.

_Vinicius?

_Eliza?o que foi com você?_pela voz ele parecia preocupado.

_Vinicius meu pai me expulsou de casa_ parei pra tomar fôlego_ eu estou muito mau, não sei o que fazer, não sei pra onde ir ou com quem contar.

_Justo hoje Eliza?

_Como assim?_ não entendi sua resposta.

_Seu dia não foi dos melhores ne? Primeiro com o Lucas, agora seu pai.

_O que eu faço?_ eu imaginava que ele também não teria uma resposta, e me sentia uma idiota por estar pedindo ajuda a ele, mais não tinha outra opção.

_Eu não posso te acolher na minha casa, mas tenho uma idéia.

_Vinicius você e minha ultima esperança_ ele tinha me devolvido a esperança.

_Eliza pede pro James te trazer aqui em casa agora, fala pra ele entrar nas portas dos fundos porque meus pais já estão dormindo ok?

_Ta bom.

Vinicius tinha se tornado meu anjo da guarda, independente do que ele estivesse pensando em fazer, ele tinha pensado em algo e isso me fazia pensar que alguém ainda se importava comigo, e isso era tudo o que eu não tinha a muito

tempo _atenção.

James me levou a casa de Vinicius, sem me dizer nem uma palavra, a viagem em seu carro foi rápida, e eu me surpreendi ao ver a casa de Vinicius.

A turma dos meninos_ embora não fosse muito grande_ era uma das mais cobiçadas pelas garotas do colégio, Vinicius, Renato, James e meu tão sonhado Lucas eram realmente lindos, e passavam a idéia de ricos e bem sucedidos, mas a casa de Vinicius era bem modesta, o que me fez me sentir menos deslocada.

A casa tinha um portão de ferro cinza na entrada, entramos por ele dando na área da casa que não era muito grande, a porta de madeira combinando com as duas janelas uma de cada lado da porta, passamos pela porta indo para o lado esquerdo da área onde tinha uma garagem vazia, entramos nela contornando a casa ate a área de serviço, que estava com a luz acesa, e a porta estava meio aberta, James a empurrou e olhou dentro da casa;

_Vinicius?_sussurrou_ cadê você? oi!

Então ele saio da porta vindo para meu lado, e Vinicius apareceu na porta, passou por ela e a fechou.

_Eliza _disse Vinicius me abraçando_ como você ta?

_péssima _respondi me soltando de seu abraço_ eu estou perdida.

Era estranho a preocupação de Vinicius, normalmente ele não era meu amigo era apenas meu colega que gostava da minha melhor amiga.

_Não, você não esta, porque você não procura a Catarina?

_A Catarina?_eu não tinha pensado nisso, afinal ela estava em outro estado_ como eu iria chegar ate ela?

_Ha não sei Eliza, é so um idéia, você precisa de um lugar pra ficar ne?

Eu percebi a verdadeira intenção de Vinicius em me chamar ali ele não estava preocupado comigo ele so queria um motivo pra falar com Catarina.

Coloquei minhas mãos no rosto e suspirei fundo novamente percebi que estava sozinha, e isso definitivamente estava ajudando a acabar comigo.

_O que você vai fazer Eliza?_ perguntou James.

_Não sei_ realmente Catarina era minha ultima alternativa_ Será que você tem um celular que possa me emprestar?_perguntei a Vinicius.

_Claro, mais eu pensei que você quisesse falar com ela pelo msn, eu...

_Não _o interrompi_ eu vou ligar do aeroporto, James me leva ate La?

_Agora?_ me perguntou assustado_ Ta meio tarde ne?

_Agora James, so quero que me deixe La

_Entra um pouco Eliza_ disse Vinicius_ vou pegar uma blusa de frio mais quente pra você e o celular_ disse abrindo a porta e entrando por ela.

Entrei na casa em silencio, lembrando que me disse que os pais estariam dormindo, passei por uma cozinha e entrei em um pequeno corredor na primeira porta Vinicius entrou e eu entrei logo atrás acompanhada de James, era seu quarto.

Ele abriu a porta de seu guarda roupas e tirou uma blusa de frio preta, enorme e me entregou.

_Aqui essa aqui sim vai te manter aquecida_ se abaixou ate as gavetas do guarda roupas e começou a mexer em uma_ Espere so um pouco que vou procurar uma coisa.

Não fazia idéia do que Vinicius procurava, mais isso não fazia mais importância, eu estava perdida ali agora,vendo algumas fotos no criado mudo de Vinicius, Lucas estava ali, lindo com aquele sorriso perfeito no rosto, se divertindo com seus amigos, meu coração acelerava, e meu peito doía, ao pensar que provavelmente nunca mais o veria, agora que minha rotina de escola havia acabado definitivamente.

Meus olhos estavam cheios de lagrimas de novo.

_Aqui_ Vinicius tinha alguns envelopes em suas mãos_ quero que você e a Catarina leiam isso juntas quando se encontrarem, pode fazer isso por mim?_ Vinicius agora falava mais serio que nunca.

_Ta bom.

_É importante Eliza_ peguei os envelopes de suas mãos e coloquei em um dos bolsos de minha mochila_ Não esquece ta bom?

Ele olhou para as fotos que eu estava vendo, se abaixou e pegou uma onde ele e Lucas estavam e colocou em minha mão.

_Acho que você ia gostar dessa foto_ se inclinou para meu lado e sussurrou em meu ouvido_ pensa no Lucas quando olhar pra ela, e pede pra Cat pensar em mim, tudo bem?

_Ela não precisa de foto alguma pra pensar em você, assim como eu não preciso pra lembrar dele.

_Mas leva o celular e não esquece o celular também ne?

 

James me deixou no aeroporto sozinha, e embora ele e Vinicius não tivessem consertado minha vida, eles tinham me ajudado muito, nem sei o que teria acontecido comigo se James não tivesse me encontrado, agora eu tinha pelo menos um destino, e uma esperança. Morrer já não era mais uma alternativa embora minha vida ainda estivesse de pernas pro ar.

Sentei em um banco do aeroporto com o celular e a foto nas mãos, disquei o numero de minha amiga e coloquei pra chamar.

Na primeira tentativa chamou ate cair, e na segunda também, esperei um pouco e tentei de novo, caiu na caixa postal;

_Cat, é a Eliza!!_ parei procurando as melhores palavras_ Eu to sozinha Catarina, muito sozinha, e eu estou precisando muito de você, estou precisando muito mesmo... Me liga por favor eu estou com o celular do Vinicius, beijo muitas saudades amiga.

Desliguei o celular sufocando minha vontade de chorar, guardei o celular na mochila e peguei a foto de minha mãe.

Vocês dois são tão importantes na minha vida_ disse a mim mesma olhando a foto de minha mãe e a de Lucas_ e os dois me abandonaram, eu não os culpo, mais... eu preciso tanto de vocês.

Eu não tinha mais forças, nem queria ter, eu estava sozinha, com fome e frio, mais a única coisa que me incomodava naquele momento era o vazio que eu tinha em meu peito.

Tentei outras varias vezes ligar para minha amiga mais não consegui.

Dormi no banco do aeroporto e pra minha sorte ninguém foi La me acordar.

Agora realmente eu estava sozinha, sem amigos, sem família, sem namorado sem ninguém, sem vida...


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